Sete Quedas era a maior cachoeira em volume d’água do mundo
e estavam, inclusive, no Livro dos Recordes, até serem destruídas pelo homem na
década de oitenta.
O nome Sete Quedas foi uma homenagem de um chefe indígena
para as sete das dezenove quedas que mais se destacavam. Ele ficou impressionado
pela tamanha beleza das cachoeiras e quis demonstrar a sua gratidão com o
lugar.
Tendo o dobro de volume das Cataratas do Niágara (EUA/Canadá)
e treze vezes mais caudalosas que as Victoria Falls na Zâmbia, Sete Quedas era
localizada no Rio Paraná e foi o ponto turístico
mais visitado no Brasil pelos estrangeiros na época. Guaíra chegou a ter 60
mil habitantes, concorrendo diretamente com Foz do Iguaçu como principal
destino em importância, comparado com as Cataratas.
Além dos milhares de turistas, Guaíra tinha uma população de sessenta mil habitantes. Hoje é a metade. |
A prosperidade da cidade era mais do que certa: hotéis,
restaurantes, pousadas e agências de turismo, bem como quiosques com
lembrancinhas foram abertos aos redores do local.
+Veja também: Salto
São Francisco, a maior cachoeira do Sul do Brasil
O início do fim começou em 1973 com o Tratado de Itaipu
entre Brasil e Paraguai para o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná. Assim
que começou a construção da usina foi ‘assinado’ também a sentença de morte das
Sete Quedas.
Após o anúncio da ‘morte’ das cachoeiras, milhares de
pessoas começaram a visitar o local para se despedir – pois sabiam que nunca
mais iriam vê-las novamente – e o grande número de pessoas ao mesmo tempo,
somado a falta de estrutura para a época e para a grande demanda, deu início à
tragédia como um todo, onde em 17 de janeiro de 1982 a ponte Presidente Roosevelt
– que dava acesso ao salto dezenove e
que não recebia manutenção – desabou cheia de turistas, matando trinta e duas
pessoas. As seis únicas pessoas que sobreviveram foram salvas pelo ato heroico e
corajoso de um morador local, João Mandi, que se atirou na água e resgatou
cinco mulheres e um homem.
Presidente Roosevelt acima das Sete Quedas que desabou vitimando fatalmente trinta e duas pessoas. |
Em 1982 foi inaugurada a Usina Hidrelétrica de Itaipu, dando
fim às cachoeiras de uma vez por todas.
Em 13 de outubro de 1982 a região onde estavam localizadas
as cachoeiras foi totalmente inundada, se tornando o que é, atualmente, o Lago de
Itaipu.
Foto das Sete Quedas dois anos antes de serem inundadas pelo lago Itaipu. Foto: Internet. |
Na época do alagamento da região apenas as copas de algumas
árvores ficaram acima da água, onde animais que por ali viviam buscaram refúgio
e tiveram que ser resgatados de barco. Imagens que ficaram na memória dos
moradores que classificaram o fato como sendo muito deprimente; como se as
árvores fossem mãos pedindo por socorro.
Continua abaixo
Hoje, no ponto exato que estavam as Sete Quedas, o lago tem
uma correnteza um pouco maior quando o volume de água está mais baixo, deixando
evidente algumas pedras que ficavam no topo das cachoeiras.
Em períodos de seca é possível ver o reaparecimento das rochas que ficavam no topo das Sete Quedas |
Atualmente, 36 anos depois do fim das cachoeiras, a cidade
tem 32 mil habitantes. Alguns turistas, movidos pela curiosidade, ainda visitam
o local e procuram por barqueiros que os levem até onde ficavam as quedas d’água,
porém nada se compara ao que era.
O barulho da água, que era ouvido pelos moradores a vinte
quilômetros de distância, deu lugar ao silêncio das águas tranquilas de um lago
que subiu lentamente e afundou para sempre o sonho de prosperidade da população
local.
Sete quedas por mim passaram,
e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
a memória dos índios, pulverizada,
já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,
aos apagados fogos
de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se
os sete fantasmas das águas assassinadas
por mão do homem, dono do planeta.