Produto é usado na produção de soda cáustica e bicarbonato de sódio
Imagem: Ilustração/ Agência Brasil |
O risco de colapso em uma das 35 minas de responsabilidade
da Braskem vem sendo monitorado pela Defesa Civil de Maceió e foi detectado
devido ao avanço no afundamento. A petroquímica confirma que pode ocorrer um
grande desabamento da área, mas afirma que existe também a possibilidade de que
o solo se acomode. Um eventual colapso geraria um tremor de terra e tem
potencial para abrir uma cratera maior que o estádio do Maracanã. As
consequências, no entanto, ainda são incertas. O governo federal também acompanha
a situação.
Mas o que é o sal-gema? Diferente do sal que geralmente
usamos na cozinha, que é obtido do mar, o sal-gema é encontrado em jazidas
subterrâneas formadas há milhares de anos a partir da evaporação de porções do
oceano. Por esta razão, o cloreto de sódio é acompanhado de uma variedade de
minerais.
Designado também por halita, o sal-gema é comercializado
para uso na cozinha. Muito comum nos supermercados, o sal extraído no Himalaia,
que possui uma tonalidade rosa devido às características locais, é um sal-gema.
No entanto, o sal-gema é também uma matéria-prima versátil
para a indústria química. É empregado, por exemplo, na produção de soda
cáustica, ácido clorídrico, bicarbonato de sódio, sabão, detergente e pasta de
dente, enfim, na fabricação de produtos de limpeza e de higiene e em produtos
farmacêuticos.
Indústria
Inicialmente, a exploração em Maceió se voltou para a
produção de dicloroetano, substância empregada na fabricação de PVC. Não por
acaso, desde que inaugurou em 2012 uma unidade industrial na cidade de Marechal
Deodoro, vizinha a Maceió, a Braskem se tornou a maior produtora de PVC do
continente americano. Outras indústrias, como a de celulose e de vidro, também
empregam o sal-gema em seus processos.
A exploração de sal-gema, como outros minerais, depende de
licenciamento ambiental. A exploração é fiscalizada pela Agência Nacional de
Mineração (ANM). No mercado internacional, o Brasil é um ator relevante.
Segundo dados da ANM, foram 7 milhões de toneladas em 2002. O ranking do ano
passado, no entanto, mostra que os três líderes mundiais têm produção muito
mais robusta que todos os demais: China (64 milhões de toneladas), Índia (45
milhões) e Estados Unidos (42 milhões).
Em Maceió, a exploração das minas teve início em 1976 pela
empresa Salgema Indústrias Químicas, que logo foi estatizada e mais tarde
novamente privatizada. Em 1996, mudou de nome para Trikem e, em 2002, funde-se
com outras empresas menores tornando-se finalmente Braskem, com controle
majoritário do Grupo Novonor, antigo Grupo Odebrecht. A Petrobras também possui
participação acionária na empresa, com 47% das ações, dividindo o controle
acionário com a Novonor. Atualmente, a Braskem desenvolve atividades não apenas
no Brasil, como também em outros países como Estados Unidos, México e Alemanha.
Escavação
A exploração em Maceió envolvia a escavação de poços até a
camada de sal, que pode estar há mais de mil metros de profundidade. Então,
injetava-se água para dissolver o sal-gema e formar uma salmoura. Em seguida,
usando um sistema de pressão, a solução era trazida até a superfície. Ao fim da
extração, esses poços precisam ser preenchidos com uma solução líquida para
manter a estabilidade do solo.
O problema em Maceió ocorreu por vazamento dessa solução
líquida, deixando buracos na camada de sal. Uma hipótese já levantada por
pesquisadores é de que a ocorrência tenha relação com falhas geológicas na
região. Consequentemente, a instabilidade no solo levou a um tremor de terra
sentido em março de 2018. O evento causou os afundamentos nos cinco bairros:
Pinheiro, Mustange, Bebedouro, Bom Parto e Farol.
Com novos tremores e o surgimento de rachaduras em casas e
ruas, a Braskem anunciou o fim da exploração das minas em maio de 2019. A
petroquímica diz que já foi pago R$ 3,7 bilhões em indenizações e auxílios
financeiros para moradores e comerciantes desses bairros. Uma parcela dos
atingidos busca reparação através de processos judiciais. O caso também é
discutido em ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF).
Afundamento do solo diminui
Registros da Defesa Civil de Maceió indicam que o ritmo de afundamento da mina de extração de sal-gema número 18, no bairro Mutange, caiu pela metade.
Dados divulgados no início da noite deste domingo (3) mostram que a movimentação do solo diminuiu para 0,3 centímetros por hora. Pela manhã, esse número era de 0,7cm. Nas últimas 24 horas, o afundamento foi de 7,4 cm. Desde terça-feira (28/12), a mina 18 acumula 1,69 metros de afundamento.
Não houve registro de novos abalos sísmicos na mina número 18. No sábado e na sexta dois tremores foram detectados, o primeiro de magnitude 0,39 e o segundo de 0,89. Os dois a 300 metros de profundidade.
A orientação da Defesa Civil ainda é que a população não transite na área desocupada na capital.
Desde 2019, quase 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas pelo medo dos tremores de terra que criaram rachaduras nos imóveis da região. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a exploração de 35 minas de sal-gema pela Braskem foi a responsável por deixar milhares de pessoas desabrigadas e transformar bairros antes movimentados e populosos em lugares praticamente desertos.
Segundo a Defesa Civil, a área da mina número 18 ameaça desabar a qualquer momento, com potencial de criar na área uma cratera maior que o estádio do Maracanã.
A Braskem informou que pode ocorrer um grande desabamento da área, mas também é possível que o solo se estabilize e pare de afundar.