Baleias encantam turistas que procuram o litoral norte de São Paulo no inverno

Lenon Diego Gauron
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Observar o espetáculo de nado, saltos e esguichos desse incrível mamífero é uma atividade que vem ganhando cada vez mais apreciadores

Imagem: divulgação, via MTur

Além das belas praias, paisagens deslumbrantes, restaurantes requintados e a movimentada vida noturna, outro atrativo tem levado milhares de turistas para o litoral norte de São Paulo: as baleias jubarte. Elas são simpáticas, acrobáticas, dóceis, brincalhonas e encantam os turistas que vem buscando a região no inverno, principalmente nos meses de junho e julho. Elas são as estrelas de um tipo de turismo que vem crescendo no Brasil e em especial no município de São Sebastião: o de observação de baleias.

“Esse segmento traz benefícios para a região que vão muito além de emprego e renda para a população. Ajuda a criar uma consciência sobre a importância da preservação da nossa fauna marinha e mobiliza as pessoas em benefício e apoio às causas de preservação do meio ambiente”, ressalta Julio Cardoso, do Projeto Baleia à Vista.

Os encantadores mamíferos passam o verão nas águas geladas da Antártida, onde a comida é abundante, e nadam mais de 5 mil km para passarem o inverno no litoral brasileiro, onde as águas são mais quentes, para se reproduzirem. Por isso, a temporada brasileira vai de maio a setembro. Mas nesse ano, elas resolveram chegar mais cedo. As primeiras jubartes foram avistadas em Ubatuba, em 12 de abril, e no sul de Ilhabela, em 21 de abril.

A observação dos animais acontece em mais de 100 países, gerando uma receita anual de quase 2,5 bilhões de dólares. No Brasil, a atividade atrai cerca de 10 mil turistas por ano e movimenta aproximadamente R$ 3 milhões na economia nacional, sem contar os impactos indiretos nas comunidades locais.

A atividade, como atrativo turístico no litoral norte paulista, é recente. A Maremar Turismo, operadora que atua na região há mais de 30 anos, só criou a experiência em 2021. “Quando começamos a fazer os passeios, os barcos não davam conta de atender o número de pessoas interessadas. Em 2022, dobrou o número de pessoas que buscaram os passeios e no ano passado batemos recordes: fizemos duas saídas por dia, com quatro barcos, levando uma média de 250 pessoas, durante 76 dias. Em todos os dias avistamos baleias”, conta Marcos Cará, que trabalha na empresa.

O crescimento da procura por esse turismo na região cresce na mesma proporção que os avistamentos de baleia. Entre maio e setembro de 2018 foram avistadas 41 jubartes em São Sebastião e Ilhabela; em 2019, o número subiu para 101; em 2020, para 158; foram 214, em 2021; 178, em 2022; e, superando todas as expectativas, 787 em 2023. “Nossa hipótese é que, como as águas da região estavam mais quentes que o normal no inverno passado, as baleias em reprodução ficaram por aqui, o que constatamos com a presença de muitas mães com filhotes. Isso pode ter sido a causa delas encostarem mais aqui e não passarem direto para a Bahia”, justifica Julio Cardoso.

A experiência movimentou uma época de baixa temporada, quando poucas pessoas visitam o litoral paulista. Marcos Cará conta que o faturamento da empresa triplicou nos últimos três anos com o avistamento de baleias. “O inverno se tornou a nossa segunda temporada de turismo”, completa Marcos Cará.

No embalo do movimento das baleias, cresce a procura por hospedagem, alimentação e outras opções de lazer, o que reflete também no crescimento da economia do município. “Aqui, valorizamos não apenas as belezas naturais, mas também a conservação marinha e o turismo sustentável. Investimos em capacitação para operadores e campanhas educativas em toda a cidade, visando educar e conscientizar tanto os turistas quanto a comunidade local sobre a importância da observação responsável de baleias”, ressalta Adriana Augusto Venhadozzi, secretária de Turismo de São Sebastião.

Regras

Na temporada de avistamento de baleias, os turistas saem ao mar em embarcações previamente cadastradas e com toda tripulação capacitada para cumprir as normas de avistagem, que determinam como proceder na aproximação de cetáceos. Há regras como o máximo de duas embarcações por cada grupo de baleias, limite de aproximação de 100 metros dos animais, motor neutro e permanecer no local por no máximo meia hora.

Há também um protocolo de medidas quando uma baleia é avistada no Canal de São Sebastião: é emitido um alerta vermelho para que as balsas e demais embarcações reduzam a velocidade e redobrem a atenção. Em 2023, o município de São Sebastião foi vencedor da 11ª edição do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo, com a iniciativa Avistamento de Baleias em São Sebastião.

“Estamos trabalhando para garantir que o turismo de avistamento de baleias seja uma experiência enriquecedora e sustentável para nossos visitantes, além de refletir positivamente na economia do município”, afirma Adriana Augusto Venhadozzi. A cidade promove a conservação marinha e o turismo sustentável, com práticas responsáveis, educação ambiental, reduzindo impactos ambientais e impulsionando o crescimento econômico local.

Identidade

O turismo de observação de baleias é também um aliado da ciência. A fotoidentificação é uma importante ferramenta para a pesquisa, pois a parte inferior da cauda é a digital da jubarte. Turistas e a população em geral podem ajudar na identificação dos animais enviando fotos da cauda para projetos como o Baleia à Vista, parceiro do Instituto Baleia Jubarte, que encaminha para a plataforma internacional Happy Whale. A organização conta com mais de 100 mil baleias catalogadas ao redor do mundo, com informações de onde passam e suas possíveis rotas.

Dóceis Gigantes

As baleias jubarte são dóceis, podem medir até 16 metros de comprimento e pesar até 40 toneladas. Elas estão presentes em todos os oceanos e sua expectativa de vida é de 60 anos. Elas têm a coloração negra, a nadadeira dorsal pequena, as grandes nadadeiras peitorais, que podem chegar a ter 1/3 do comprimento do corpo, e a típica cauda que possibilita a identificação de cada indivíduo. No final de 2022, o censo aéreo realizado pelo Projeto Baleia Jubarte identificou a recuperação da população brasileira de jubartes, com uma estimativa de aproximadamente 25 mil indivíduos da espécie.

São Sebastião

Com mais de 100 km de litoral, no norte de São Paulo, é uma região com mais de 50 praias, enseadas e ilhas emolduradas pelo encontro da Mata Atlântica com as areias brancas e o azul do mar. Não à toa atrai amantes do sol, surfistas e famílias em busca de momentos inesquecíveis à beira-mar.

A cidade oferece uma rica herança histórica, com igrejas seculares e charmosas construções coloniais. Com uma variedade de restaurantes, bares e quiosques na beira da praia, os visitantes podem saborear frutos do mar frescos e pratos típicos da região. São Sebastião é um polo cultural, com eventos durante todo o ano, de festivais de música a celebrações tradicionais.

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